quarta-feira, 17 de setembro de 2008

SEXUALIDADE EM FACE DOS PAIS

As atitudes das famílias face ao desenvolvimento sexual e afectivo dos seus filhos portadores de deficiência
O desenvolvimento psicossexual é um processo resultante da interacção do indivíduo com os outros, sobretudo com os pais ou as pessoas significativas que rodeiam e interagem com a criança. Importa referir que a sexualidade não surge, subitamente, na puberdade, mas constituí parte integrante de todos os seres humanos, cujo desenvolvimento é muito determinado pelo modo como a sexualidade e o relacionamento interpessoal em geral são encarados e sentidos pelas pessoas próximas da criança. Note-se que, frequentemente, os pais de filhos portadores de deficiência apresentam uma confusão extrema sobre o comportamento sexual adequado dos seus filhos, para a qual contribuem, muitas vezes, os sentimentos negativos, as expectativas, as representações, os valores e as atitudes em relação aos indivíduos portadores de deficiência (por exemplo, vistos como seres assexuados, impotentes, estéreis ou "depravados sexuais") prevalecentes na comunidade a que os pais pertencem (Loureiro, 1994/95), que os faz negar ou reprimir a evidente sexualidade dos seus filhos.Este contexto social e cultural, onde o estigma da deficiência surge, geralmente, associado "à inferioridade, à incapacidade, ao comportamento social inadequado, à necessidade de ajuda e vigilância permanentes, ao "defeito físico"" (Loureiro, 1994/95, p. 106) é passível de comprometer o papel parental, a sua função educativa e suporte afectivo em relação ao filho, devido à dificuldade em aceitar a sua deficiência. Os pais "manifestam atitudes de tolerância perante a integração, a normalização e o respeito pelos direitos humanos, quando enunciados como princípios gerais" (Félix, 2001, p.20), no entanto, é evidente uma menor aceitação dos mesmos princípios quando relativos ao seu filho portador de deficiência. Ou seja, na maioria dos casos, os pais, face à sexualidade do seu próprio filho, apresentam atitudes superprotectoras e dessexualizadoras. Tal como a sociedade em geral, os pais não se encontram preparados para reconhecer o corpo sexuado do filho portador de deficiência, esperando, por exemplo, "nas raparigas, que a menstruação não venha ou que venha o mais tardiamente possível; surgem atitudes de denegação em relação à masturbação; reforçam comportamentos infantis que visam negar a puberdade e prolongar a criança eterna" (França, 2001, p.2), em que as necessidades sexuais do filho são completamente alienadas.Vários estudos realizados nesta área concluem que, frequentemente, os pais evitam fornecer aos seus filhos qualquer tipo de informação sexual, julgando que, deste modo, é possível evitar ou atenuar o interesse do seu filho pela sexualidade. Por um lado, para além de possuírem conhecimentos muito limitados sobre estes temas, os pais não se consideram preparados para transmitirem conhecimentos aos filhos, apresentando uma notória ansiedade perante os perigos a que os seus filhos se encontram sujeitos nesta área, nomeadamente, a possibilidade de ocorrência de abusos sexuais (Félix, 2002). Por outro, os pais atribuem, com frequência, a si próprios a responsabilidade da deficiência do filho, formulando como possíveis causas a negligência; omissões ocorridas durante a gravidez; conflitos conjugais ou práticas sexuais inadequadas. Veja-se que, quando tal ocorre, é usual a tentativa, através da superproteção exagerada com sobrevalorização das limitações, de impedir a sexualidade do seu filho (Greengross, 1980).Como já referido anteriormente, os pais, geralmente, evitam que os seus filhos portadores de deficiência corram riscos, sendo evidente a superproteção, visando impedir o seu sofrimento físico e psíquico, isso é natural e saudável, pois revela o amor que lhes têm. Porém, não podemos esquecer que eles precisam fazer as suas próprias "experiências" para crescerem, desenvolverem e evoluírem para a adultez, assim, afastando-os do contacto com o grupo de pares, impede-os de terem amigos e de se realizarem afectivamente, não possibilitam que o filho experimente a sexualidade e explore o significado da masculinidade e feminilidade. Parafraseando Greengross (1980), "todo o crescimento emocional envolve uma aprendizagem e compreensão das diferenças entre a fantasia e a realidade e a vontade de viver num mundo real, por muito desagradável que este mundo possa ser" (p. 14).Este notório isolamento, impede-os, simultaneamente, de aprenderem a "dar aos outros o seu amor" (Andrade, s/d) e de o receberem. Por isso, é muito útil providenciar-lhes actividades de recreio e desporto, especialmente na adolescência, para lhes favorecer as relações interpessoais - por exemplo, a integração do jovem deficiente em grupos de jovens pode ser um excelente meio de lhe proporcionar experiências sociais gratificantes e que o ajudam, também, a desenvolver a auto-estima. Contudo se a família tem uma atitude de superprotecção, prejudicam a construção de uma adequada identidade masculina ou feminina, o que irá influenciar o futuro das suas relações psico-sexo-afectivas. Ou seja, não permitirão o desenvolvimento de uma pessoa "completa", com uma boa auto- imagem, auto-estima e autoconfiança, e da aceitação das suas diferenças psico-fisiológicas (Andrade, s/d).Esta excessiva dependência é, na maioria dos casos, em relação à figura materna, sendo notório, muitas vezes, um fraco vínculo à figura paterna. Esta atitude de exclusão do pai pode repercutir-se negativamente no desenvolvimento psicossexual dos seus filhos, dificultando o processo de construção da identidade sexual e dos papéis sexuais (Loureiro, 1994/95).O interesse e o prazer que advém da exploração do seu corpo (especialmente os órgãos genitais) conduzem a criança a sentir curiosidade pelo corpo do Outro e pelas suas diferenças. O aumento do desejo sexual e das sensações eróticas conduz a comportamentos sexuais, tais como a masturbação, jogos sexuais entre jovens do mesmo sexo, beliscões, apalpadelas, trocas de beijos e carícias entre jovens de sexo diferente. Perante estas manifestações, é possível observar diferentes atitudes dos pais (Loureiro, 1994/95):- negação da ocorrência destes comportamentos de natureza sexual;- repressão e redobro do controlo, por receio de eventuais riscos de abuso, exploração sexual ou marginalização social. Estas atitudes de repressão e comentários negativos dos pais podem influenciar o modo como o filho vai viver e expressar a sua sexualidade, gerando sentimentos de culpabilidade e angústia;- displicência perante estes comportamentos, visto não encararem a possibilidade do filho manter, futuramente, uma vida sexual activa;- recorrência à Educação Sexual (á qual nos reportaremos adiante) do filho e à utilização de medidas contraceptivas, através da ajuda de técnicos especializados, para lidar de forma equilibrada com a sexualidade do seu filho.
Segundo Turner (referido por Félix, 2002), a masturbação constitui a manifestação de sexualidade que mais embaraço, angústia e preocupação causa aos pais. No caso dos jovens "ditos normais", os pais, embora conscientes da possibilidade de ocorrência deste comportamento, procuram ignorá-lo e, para tal, garantem ao filho alguma privacidade. No entanto, é notória a necessidade de maior envolvimento parental em todas as actividades dos indivíduos portadores de deficiência, não constituindo a masturbação uma excepção. Esta proximidade (muitas vezes involuntária) com a sexualidade dos filhos é susceptível de aumentar a ansiedade dos pais, principalmente quando estes defendem que é improvável que o seu filho usufrua de uma vida sexual saudável. No entanto, é possível, por exemplo, ensinar os indivíduos portadores de deficiência a limitar os actos de masturbação à privacidade da casa de banho ou do quarto, através de métodos não punitivos, preservando o seu bem-estar físico e psicológico (Greengross, 1980). Neste processo de aprendizagem é fundamental, obviamente, a participação activa dos pais.

Fonte: http://www.profala.com/artpsico30.htm#6

Lucas Dantas
lucasrdantas@gmail.com

Nenhum comentário: